Lewis Carrol era professor de matemática na Universidade de Oxford quando escreveu o seguinte em Alice no país das maravilhas:

– “Gato Cheshire […] quer fazer o favor de me dizer qual é o caminho que eu devo tomar?

Isso depende muito do lugar para onde você quer ir. Disse o Gato.
– Não me interessa muito para onde… Disse Alice.
– Não tem importância, então, o caminho que você tomar? Disse o Gato.
– […] contanto que eu chegue a algum lugar… Acrescentou Alice, como uma explicação. – Ah! Disso pode ter certeza – disse o Gato – desde que caminhe bastante “(DUBOS, 1972).

A resposta do Gato oferece um exemplo de como popularmente se pensa acerca do trabalho dos cientistas, entendendo que, envolvidos com suas descobertas, se distanciam de se preocuparem para onde o conhecimento pode levar a humanidade e que, para eles, isto não os importa muito.

Na verdade, há entre os cientistas, a preocupação de contribuir para a busca de melhor qualidade de vida da humanidade, tornando o homem mais consciente das conseqüências e do valor de seus atos. Este conhecimento das conseqüências, no ato de tomar decisões, está implícito na resposta, poderia ser o desejado, se as escolhas que fizesse fossem conscientes e não estivessem submetidas ao acaso. O que Dubos assinala é a preocupação que um cientista deve ter com os fins a que se destina a sua pesquisa, a ciência.

O problema do aprendizado da ciência ou da criação científica gira, portanto, em torno de saber se há alguma coisa de místico no pensamento científico ou alguma coisa de científico no pensamento místico. Faz-se necessário então, neste momento respondermos claramente a seguinte pergunta:

O que é ciência?

UNIVERSALIDADE Produz conhecimentos que contenham validez universal (leis universais), pela certeza de seus dados e resultados.
COERÊNCIA Significando argumentação estruturada, ausência de contradição, corpo de enunciados bem deduzidos; argumentação;
CONSISTÊNCIA Significando capacidade de resistir a argumentos contrários; capacidade de se ligar à atualidade da argumentação;
OBJETIVAÇÃO Que é a tentativa de descobrir a realidade como ela é;
ORIGINALIDADE Significando produção não repetitiva, baseada na pesquisa criativa, inventiva.

A ciência é “todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto delimitado, capaz de ser submetido à verificação” (TRUJILLO FERRARI, 1974). Trata, exclusivamente, do conhecimento e da compreensão dos fenômenos. Busca permanente e constantemente a verdade. Não existe um critério único que determine sua extensão, natureza ou caracteres, pois vários critérios têm fundamentos filosóficos que extravasam a prática científica.

Pluridimensional, sua característica é a de apresentar-se como um pensamento racional, objetivo, lógico e confiável, tendo como particularidade ser sistemático, exato e falível, pois deve ser verificável, o que significa dizer que deve ser submetido à experimentação para a comprovação de seus enunciados e hipóteses, procurando-se as relações causais. É geral e não fruto de um conhecimento particular.

Assim, a ciência acaba por exigir do pesquisador um domínio de técnicas de coleta de dados, manuseio e uso de dados, capacidade de manusear bibliografia, versatilidade na discussão teórica e conhecimento de teorias e autores.

Para este novo milênio, o desafio é despertar o aluno para a importância da pesquisa, enquanto instrumento divulgador de seu discurso crítico científico. No Brasil, os cursos de pós-graduação alavancaram as pesquisas. Procure se informar quais Escolas no seu estado oferecem cursos de mestrado e doutorado.

Visite as bibliotecas dessas Instituições Educacionais e conheça as dissertações e teses do acervo. Observe os temas estudados, os nomes dos autores e orientadores. Comece a se iniciar na comunidade científica.

A Verdade, a Certeza e a Evidência

A ciência é um processo de busca da verdade. Não é uma coleção de “verdades” incontestáveis. É, todavia, uma disciplina autocorretiva. Tais correções podem levar um longo tempo (a prática médica das sangrias foi realizada por séculos antes que sua futilidade fosse percebida, por exemplo), mas, conforme o conhecimento científico se acumula, a chance de se cometerem erros substanciais diminui. Conseqüentemente, quer seja no âmbito dos conceitos ou mesmo no âmbito das hipóteses ou teorias, não podemos falar em “verdades” últimas. Certas idéias que são tomadas como verdades absolutas, podem a mercê de novas descobertas, ser abandonadas ou aprimoradas.

Quando se fala em conhecer, saber, ter a certeza, as pessoas se empolgam e muitas vezes discordam umas das outras por julgarem que o seu conhecimento está mais próximo ou é a própria verdade. A verdade que pode estar tão evidente quanto for possível pela certeza de cada um. Isso porque nós humanos carecemos de acesso a qualquer mecanismo pelo qual possamos descobrir a verdade sobre uma realidade objetiva que existe independente dos processos mentais humanos. Certamente, a ciência conta com os processos mentais e nem sempre segue um caminho claro, lógico para chegar a conclusões que faz a respeito da realidade. Todavia, as previsões das teorias científicas são muito freqüentemente e suficientemente próximas da certeza, de modo que todos nós confiamos nossa vida a elas, como quando estamos em um avião ou em uma mesa de cirurgia. Quando as previsões são tão fidedignas, podemos racionalmente concluir, se não provar, que os conceitos nos quais estão fundamentadas devem ter alguma validade universal. Ou seja, devem estar, de alguma forma, conectadas com a maneira com que as coisas realmente são.

Então, o Que Seria a Verdade?

A verdade, genericamente, consiste em alguma conformidade entre o intelecto e as coisas.

A essência das coisas se manifesta, torna-se translúcida, visível ao olhar, à inteligência e à compreensão humanas. Ou ainda a verdade “é o encontro do homem com o desvelamento, com o desocultamento e com a manifestação do ser” (Cervo e Bervian, 1975: 24). O objeto, porém, nunca se manifesta inteiramente e, por outro lado, o que pode o espírito humano considerar como existente irá depender da teoria que o suporta. Por isso, a ciência não tem certeza de nada sobre o mundo e deve sempre expor seus resultados em termos de probabilidades ou indícios.

A certeza é impalpável na ciência, e é freqüentemente difícil dar respostas categóricas “Sim” ou “Não” para questões científicas. Para determinar se a água engarrafada é preferível à água de torneira, por exemplo, alguém teria que desenvolver um estudo em longo prazo de dois grupos grandes de pessoas cujos estilos de vida fossem similares em todos os aspectos exceto pelo tipo de água que consomem. Isto é virtualmente impossível. Temos desse modo que contar com evidências menos diretas para formular muitas de nossas conclusões. Assim, temos que a certeza resulta da evidência, que é uma manifestação clara e transparente do conhecimento do ser, no qual o indivíduo se torna convicto da veracidade.

Pressuposto da Ciência: o Espírito Científico

O homem é um ser que faz questionamentos existenciais, e que interpreta a si e o mundo em que vive, atribuindo-lhes significados. Cria representações significativas da realidade, as quais chamamos de conhecimento. Do conhecimento baseado puramente na observação, começando pelos casos individuais que eram acidentais e imprevisíveis, a adivinhação tornou-se um conhecimento a priori, mesmo antes do período dos nossos primeiros Tratados, ou seja, antes do final do terceiro milênio, pelo menos. Tal conhecimento era dedutivo, sistemático, capaz de prever fatos, tendo um objeto abstrato (de certa forma) e universal, e seus próprios manuais. Surge então, a necessidade de se propor um conjunto de métodos que funcionem como uma ferramenta adequada para essa investigação e compreensão do mundo que o cerca.

A curiosidade enciclopédica, a forma de abordar a realidade universal pela observação de um conhecimento analítico, necessário, dedutivo e a atitude científica e abstrata ante as coisas, estas foram aquisições definitivas para a mente humana. Elas representaram um grande enriquecimento e um progresso considerável, que não pode ser perdido uma vez alcançado, como o fogo ou a arte de fazer cerâmicas. Assim, o método e o espírito científicos, uma vez estabelecidos, não dependiam do objeto primário, e mantiveram seu valor mesmo quando o objeto era ignorado. Ou seja, o método científico e o espírito científico do homem vêm permitindo a construção conceitual de imagens da realidade que sejam verdadeiras e impessoais, passíveis de serem submetidas a testes de suas hipóteses de uma forma mais rígida e controlada. O espírito científico manifesta-se ainda, na atividade científica, pela vontade de romper com as perspectivas puramente subjetivas do conhecimento vulgar. Enfim, o espírito científico surge da vontade do homem de estar sempre querendo ir além da realidade imediatamente percebida e lançar princípios explicativos que sirvam de base para a organização e classificação que caracterizam o conhecimento. “Não basta conhecer o espírito científico”, diz muito bem Ruiz (1988), “quem conseguir admirá-lo já está caminhando para o seu cultivo. E quem cultivá-lo tirará bom proveito de seu curso universitário e será profissional voltado a um trabalho sério e profícuo no seu campo de atividades e influências”.

A Natureza da Ciência

O ser humano é o único animal na natureza com capacidade de pensar. Esta característica permite que os seres humanos sejam capazes de refletir sobre o significado de suas próprias experiências. Assim sendo, é capaz de novas descobertas e de transmiti-las a seus descendentes.

Logo, o desenvolvimento do conhecimento humano está intrinsecamente ligado à sua característica de viver em grupo, ou seja, o saber de um indivíduo é transmitido a outro, que, por sua vez, aproveita-se deste saber para somar outro. Assim evolui a ciência. E como atividade humana, a ciência é aquela que tenta explicar, através de um conjunto de leis, os fenômenos da natureza. No entanto, a ciência não é o único caminho para que se construa o conhecimento e se estabeleça uma verdade sobre a natureza e, muito menos, sobre a sociedade. Os fenômenos ou objetos de estudo podem ser observados tanto pelo cientista quanto pelo homem comum. E o que determina a construção dos vários tipos de conhecimento é a forma de observação, a maneira de obtenção do conhecimento ou o método. Sendo que o método científico vem oferecer uma maneira objetiva de avaliar informações, suas aplicações práticas e determinar o que é falso. Num sentido mais amplo, o caráter social da ciência depende de sua aplicabilidade e aceitação por parte da sociedade. De acordo com Ziman (1979) a ciência é “um produto consciente da humanidade, com suas origens históricas bem documentadas, um escopo e um conteúdo bem definidos”, sendo a investigação científica uma arte prática que se aprende através da imitação e da experiência.

A pesquisa científica, seja em forma de descobertas, seja em forma de invenções, reveste o cientista de um papel social, sendo que a ciência, por sua natureza, constitui um conjunto de conhecimentos públicos, aos quais cada pesquisador acrescenta sua contribuição pessoal. A ciência foi responsável por grandes revoluções na física, na química, na matemática e em outras áreas, e demonstra constantemente que, através de observações e experimentos podemos interferir e alterar a própria natureza ou fenômeno observado.

Seja através de aumento e melhoria do conhecimento e/ou descoberta de novos fatos e fenômenos, além do estabelecimento de certo tipo de controle sobre a natureza e do aproveitamento material e espiritual do conhecimento (supressão de falsos milagres, superstições), a ciência procura alcançar seu objetivo: possibilitar explicações em termos de finalidades e interesses.

Características da Ciência

Com base em Ruiz (1988: 124-126), descrevemos de maneira mais sistemática as características da ciência:

Conhecimento pelas causas: A ciência se caracteriza por demonstrar as razões dos enunciados, relacionando o fenômeno às suas causas.

Profundidade e generalidade de suas conclusões: A ciência exprime suas conclusões em enunciados gerais que traduzem a relação constante do binômio causa-efeito; generalizando o porquê atinge a constituição íntima e a causa comum a todos os fenômenos da mesma espécie, conferindo à ciência a prerrogativa de fazer prognósticos seguros.

Finalidade teórica e prática: Temos que da pesquisa fundamental e da descoberta da verdade decorrem inúmeras conseqüências práticas.

Objeto formal: É a maneira peculiar, o aspecto ou o ângulo sob o qual a ciência atinge seu objeto material (realidades físicas), com o controle experimental das causas reais próximas (evidência dos fatos e não das idéias).

Método e controle: É uma investigação rigorosamente metódica e controlada, derivando-se daí a razão da confiança nas conclusões científicas.

Exatidão: A ciência pode demonstrar, por via de experimentação ou evidência dos fatos objetivos, observáveis e controláveis, o mérito de seus enunciados.

Aspecto social: A ciência é uma instituição social, com os cientistas membros de uma sociedade universal para a procura da verdade e melhoria das condições de vida da humanidade.

Como exemplo das características da ciência, temos Albert Einstein e a teoria geral da relatividade. Einstein observou que a teoria da física de que uma substância chamada éter permeava tudo no universo não fazia sentido, já que não era possível detectar se uma pessoa estava ou não em movimento no espaço e que a velocidade da luz era a mesma em todo o universo (conhecimento pelas causas). Então, com base nestes

preceitos ele cria a teoria geral da relatividade (profundidade e generalidade de suas conclusões). Uma conseqüência importante desta teoria é a relação entre a massa e a energia, conhecida pela fórmula E=mc2 (finalidade teórica e prática). Com esta fórmula os cientistas perceberam que, se um núcleo de um átomo pesado de urânio se fissionasse em dois núcleos de massa ligeiramente menor, uma tremenda quantidade de energia seria liberada (objeto formal). Entre as aplicações desta teoria temos o raio-X na medicina, a geração de energia elétrica pela energia nuclear e as bombas atômicas que explodiram em Hiroshima e Nagazaki (exatidão e aspecto social).

A Neutralidade Científica

É sabido que, para se fazer uma análise desapaixonada de qualquer tema, é necessário que o pesquisador mantenha certa distância emocional do assunto abordado. Mas será isso possível? Seria possível um padre, ao analisar a evolução histórica da Igreja, manter-se afastado de sua própria história de vida? Ou, ao contrário, um pesquisador ateu abordar um tema religioso sem um conseqüente envolvimento ideológico nos caminhos de sua pesquisa?

Provavelmente a resposta seria não. Mas, ao mesmo tempo, a consciência desta realidade pode nos preparar para trabalhar esta variável de forma que os resultados da pesquisa não sofram interferências além das esperadas. É preciso que o pesquisador tenha consciência da possibilidade de interferência de sua formação moral, religiosa, cultural e de sua carga de valores para que os resultados da pesquisa não sejam influenciados além do aceitável.

Divisão da Ciência

A ciência se divide em ciências formais e ciências factuais. As ciências formais se preocupam com enunciados, que consistem em relações entre símbolos. Sua fundamentação metodológica, que visa demonstrar seus teoremas rigorosamente, se concretiza através do emprego da lógica. Conseqüentemente, o conhecimento depende da coerência do enunciado, dado com um sistema de idéias que foram admitidas previamente. Enfim, como o próprio nome enuncia, as ciências formais são constituídas pela lógica formal, ou seja, são racionais, sistemáticas e verificáveis.

As ciências factuais (materiais ou empíricas), por sua vez, preocupam-se com os processos e as coisas e, portanto, precisam mais da experimentação e da observação do que da simples conjectura.

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